Sem saber o que causava a enfermidade, as pessoas adotavam práticas artesanais inusitadas em busca de uma cura
A peste negra é como ficou conhecido o surto de peste bubônica que atingiu todo o continente europeu no período de 1347 a 1353. Acredita-se que essa doença tenha surgido na Ásia Central, sendo levada por comerciantes genoveses que estavam na região da Crimeia. Por conta da sua expansão em um grande território, ela foi considerada uma pandemia.
Os relatos daqueles que viveram no período da peste contam sobre a quantidade de mortos que sucumbiram a essa doença e o desespero das pessoas, que fugiam ou isolavam-se como forma de garantir a sua sobrevivência. Acredita-se que esse surto possa ter causado a morte de até 50 milhões de pessoas.
A peste negra foi uma pandemia de peste bubônica, uma doença causada pela bactéria Yersina pestis, que é encontrada em ratos. Essa bactéria é transmitida para os seres humanos por meio das pulgas dos ratos, e, quando as pulgas alojam-se em seres humanos, a transmissão acontece. A partir daí, um ser humano pode contaminar outro por meio das secreções do corpo e da via respiratória.
Acredita-se que a peste bubônica tenha surgido em alguma região da Ásia Central, muito provavelmente na China. Ao longo da história, já foram registrados surtos dela, como a peste justiniana, que aconteceu entre 541 e 544 e causou milhares de mortes em Constantinopla, no Império Bizantino.
No contexto do século XIV, esse surto iniciou-se nas terras do Canato da Horda Dourada, especificamente em regiões que atualmente correspondem ao sul da Rússia, tendo contato com os europeus na cidade de Caffa, localizada na Crimeia. Na década de 1340, essa cidade, que era uma colônia de Gênova, estava sendo atacada por tropas tártaras que queriam conquistá-la para o Canato.
Em 1346, os tártaros conseguiram contaminar Caffa, e a disseminação da doença por lá fez os genoveses fugirem da cidade. Assim, esses genoveses levaram a doença por onde passaram, Constantinopla, Sicília, Marselha e Península Itálica. Entre 1347 e 1348, a doença chegou a essas regiões litorâneas da Europa e espalhou-se pelo restante do continente.
Hoje a ciência já mostrou que a trágica Peste Negra, que assombrou a Idade Média, entre os anos de 1346 e 1353, foi causada por uma bactéria, batizada de Yersinia pestis. Acontece que no século 14 ninguém sabia disso. Então, sem esse conhecimento, como será que as pessoas da época reagiram frente à peste?
A doença desconhecida causou muito pânico e mortes, ceifou um terço da população mundial na época. A febre da peste atingia 41 graus, os vômitos eram sanguinolentos, e muitas pessoas desenvolviam complicações pulmonares, enquanto que outros sortudos se curavam de modo espontâneo.
Mas, para a maioria, o sofrimento foi tanto que isso apareceria de modo muito recorrente em relatos históricos. Um deles é do poeta Boccaccio, que viveu em Florença, na Itália. Ele fez a seguinte descrição:
“Em homens e mulheres, [a Peste Negra] ela se manifesta pela emergência de certos tumores nas virilhas e axilas, alguns dos quais chegam ao tamanho de uma maçã; outros, ao de um ovo… Dessas duas regiões do corpo, esses tumores mortais logo começam a propagar-se e a espalhar-se em todas as direções”.
Amedrontadas e sem saber o que fazer, as pessoas recorriam à receitas e crenças sem embasamento científico para aliviar suas dores. Uma das grandes preocupações era evitar que a enfermidade evoluísse e que surgissem miasmas (odores extremamente desagradáveis, considerados na época como uma das principais causas da infecção).
Para resolver essa questão, a população fabricava grandes chamas, que eram queimadas em esquinas. Muitas pessoas usavam plantas com troncos aromáticos e várias essências, como de alecrim, âmbar e almíscar, além de flores com fragrâncias cheirosas.
Essas essências eram levadas com as pessoas, que carregavam ervas com elas a todo lugar. Muitos acreditavam que colocá-las nas janelas de suas casas permitiria bloquear a poluição do ar — que eles acreditavam ser a causadora da Peste Negra.
Outra questão era a dieta. Ninguém comia carne ou figo, considerados alimentos propícios à doença mortal. Atividades físicas que podiam abrir os poros e causar o miasma também estavam proibidas. Fazer sexo e tomar banho estavam entre as tarefas não recomendadas, além não poder tirar sonecas durante o dia.
Ter pensamentos sobre a morte e a doença também não era algo aconselhável, por mais inevitável que fosse. Havia uma crença, inclusive, que aquela situação era um castigo de Deus. Foi isso que acreditava a irmandade Brotherhood of the Flagellants, que para compensar, se castigava andando pela Europa a pé e praticando autoflagelação.
Outra reação inusitada frente à peste foram as vestimentas. Pessoas usavam máscaras com formas parecidas com bicos de aves, contendo itens aromáticos. Isso era usado até por profissionais da saúde para se proteger de qualquer tipo de ar contaminado. Outras medidas também incluíam fazer os pacientes sangrarem para tirar aquele veneno, que estaria causando a doença.
Desconhecendo as origens biológicas da Peste Negra, as pessoas reagiam também depositando a culpa em grupos sociais marginalizados, por supostamente terem trazido a doença à Europa. Alguns documentos do período incriminavam os judeus pela doença, sendo que alguns deles foram até queimados vivos.
Nos primeiros séculos, os judeus eram vistos pelos cristãos como pecadores, porque foram eles que pediram a morte de Cristo. Ao longo da história ocorreram muitas perseguições e, quase sempre, os judeus eram obrigados a viver em bairros isolados (comunidades judaicas). Na Alemanha, em 1349, vários judeus foram injustamente acusados de terem causado a Peste Negra e acabaram por confessar, mediante tortura, que tinham envenenado poços de água. Esta notícia espalhou-se e dezenas de comunidades judaicas foram perseguidas.
Outros perseguidos foram os leprosos e os estrangeiros, que eram acusados de terem disseminado a Peste Negra. Mas claro, as condições de vida e higiene nos ambientes urbanos são na verdade as principais causadoras da epidemia.
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