A Primeira Guerra Mundial começou em julho de 1914, na modalidade de “guerra de movimento”, isto é, a grande movimentação das tropas de ambos os lados do conflito (Tríplice Aliança e Tríplice Entente) com vistas à invasão e ocupação rápida dos territórios inimigos. Porém, esse avanço – que durou ao longo de praticamente todo o ano de 1914 – começou a ser refreado em 1915, quando os estrategistas passaram a privilegiar a defesa das posições conquistadas. Essa fase de defesa das posições ficou conhecida como “guerra de posição”, mas também levou o epíteto de “guerra de trincheiras”, já que as trincheiras – que eram longos corredores de valas cavadas no solo – serviam como “cordões” demarcadores dessas posições.
O general alemão Erich von Falkenhayn ficou famoso por ter elaborado definições para a “guerra de trincheiras”. Segundo ele, o “primeiro princípio da guerra de posição deve ser o de não ceder nem um centímetro de terreno; e, no caso de perdê-lo, retomá-lo imediatamente por meio do contra-ataque, mesmo à custa do último homem”. Isso explica os motivos pelos quais a guerra tornou-se tão mortífera a partir de 1915. A vida nas trincheiras era absolutamente extenuante e insalubre para os soldados. Além disso, os constantes bombardeamentos com balas de canhão, o uso de gases tóxicos e os vários erros táticos por parte dos dois lados da guerra provocaram um índice de mortandade muito grande, sobretudo em batalhas como a de Ypres e de Somme.
As dinâmicas das batalhas durante a “guerra de trincheiras” obedeciam ao critério do avanço lento da infantaria – que saía das trincheiras em dia e horário determinado pelo alto-comando – sobre a chamada “terra de ninguém”, o espaço interposto entre as duas posições inimigas. Ocorre que os buracos no solo causados pelos bombardeamentos, a chuva, a neve e os cadáveres apodrecidos tornavam essas “terras de ninguém” em um cenário de terror. Por outro lado, na medida em que os soldados avançavam sobre as linhas inimigas, as metralhadoras automáticas estraçalhavam-nos como papel. Como narra o historiador Modris Eksteins, em sua obra A Sagração da Primavera: a Grande Guerra e o nascimento da Era Moderna:
O favo de crateras da terra de ninguém rapidamente destrói qualquer ordem planejada. Os homens escorregam e caem. A linha se dispersa. Alguns se levantam e continuam. Outros não podem. Na lama de Passchendaele, em 1917, alguns homens se afogam nas imensas crateras que mais parecem bueiros cheios de lodo proveniente das chuvas, da terra e da decomposição. Alguns só então começam a ouvir as balas. Outros sentem o fedor, um cheiro irresistível que emana de cadáveres que o fogo da barragem trouxe à superfície. Alguns são atingidos. A corrida ao parapeito foi perdida. O campo está sendo varrido por metralhadoras, tragado pelo fogo dos morteiros e esquadrinhado pelas balas dos fuzis.
O historiador prossegue, descrevendo a tensão psicológica sentida, individual e coletivamente, pelos soldados:
“Outros homens caem. Alguns gritam. A maioria está calada. Os feridos raramente sentem dor no início. Os oficiais tentam manter a coluna unida. Mas esses homens no limbo da terra de ninguém, estes “errantes entre dois mundos”, nem precisam de encorajamento, pois isolamento nesta situação significa medo. Só no grupo existe alguma segurança emocional, algum alívio. Na verdade, os atacantes tendem a se aglomerar, a formar grupos para obter proteção mútua”.
Percebemos, assim, que a “Grande Guerra” foi o sepultamento dos códigos de honra e da possibilidade de haver sentido e heroísmo nos combates entre nações.
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