quinta-feira, 30 de julho de 2020

MARTINHO LUTERO E O HOLOCAUSTO NA ALEMANHA NAZISTA

Em Sobre os judeus e suas mentiras, líder da Igreja Protestante vocifera ideologia que foi disseminada por nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

No início de sua carreira, Martinho Lutero era, aparentemente, solidário em relação à resistência judaica à Igreja Católica. No entanto, o religioso esperava que os judeus se convertessem ao movimento protestante. Como eles não fizeram, o monge agostiniano se voltou violentamente contra o povo.
A raiva e desgosto de uma das figuras centrais da Reforma Protestante foi registrada no livro Sobre os judeus e suas mentiras, tratado escrito pelo teólogo em janeiro de 1543. Na escrita, Martinho defende a perseguição de judeus; a queima de sinagogas e escolas judaicas; a destruição de bens religiosos; a proibição de rabinos pregarem e o confisco de dinheiro.
"Esses vermes envenenados e venenosos devem ser recrutados para trabalhos forçados ou expulsos de uma vez por todas”. O religioso também parece incitar o assassinato dos judeus aos escrever: “temos culpa em não matá-los”.

No tratado, Lutero diz que aqueles que aderem ao judaísmo “devem ser considerados como sujos” e que eles são “cheios de fezes do diabo... que chafurdam como um porco”. O protestante também afirma que a sinagoga é um “prostíbulo incorrigível”.  Diz o livro nas páginas 34-36:

“Que devemos, pois, fazer, nós cristãos, com esse povo rejeitado e amaldiçoado dos judeus? [...] Não podemos apagar o inextinguível fogo da ira divina [...] nem converter os judeus. Com oração e temor a Deus devemos exercer uma misericórdia afiada, para porventura salvar alguns das chamas e do braseiro. Nós não devemos nos vingar. Eles já estão com a vingança ao pescoço, mil vezes pior do que lhes podemos almejar.
Quero, [porém,] dar [às autoridades políticas] meu conselho fiel. Por conseguinte, não pode nem deve ser para nós cristãos uma brincadeira, mas matéria de grande seriedade buscarmos conselho contra essa realidade, a fim de salvarmos nossas almas dos judeus, isto é, do diabo e da morte eterna. E [o conselho] é este:Primeiro: Que se incendeiem suas sinagogas, e, quem puder, jogue enxofre e piche. E quem pudesse também lançar fogo infernal, seria igualmente bom. A fim de que Deus possa ver nossa seriedade e todo o mundo tal exemplo, de modo que se até agora temos tolerado em ignorância tais casas (em que os judeus têm blasfemado tão vergonhosamente contra Deus, nosso querido criador e pai, com seu Filho), agora lhes temos dado sua recompensa.. 
Em segundo lugar, suas casas também deveriam ser demolidas e arrasadas... 
Em terceiro, que se lhes tomem todos os seus livros — livros de oração, escritos talmúdicos, também toda a Bíblia —, sem deixar uma folha sequer, e que sejam preservados para aqueles que se converterem. ... 
Em quarto, os rabinos deveriam ser proibidos de ensinar, sob pena de morte... Que lhes seja proibido, sob pena de perderem o corpo e a vida, de louvar a Deus, dar-lhe graças, orar, ensinar publicamente entre nós e em nosso país. Podem fazê-lo em seu próprio território ou onde o puderem, sem que nós cristãos precisemos ouvi-lo ou disso tomar conhecimento. [...] Que lhes seja proibido pronunciar o nome de Deus em nossos ouvidos, pois nós não podemos ouvi-lo ou tolerá-lo de boa consciência. [...] E quem ouvi-lo de parte de algum judeu, denuncie-o à autoridade ou lhe atire excremento de porco quando o vir, afugentando-o. Ninguém seja misericordioso ou bondoso nesse particular, pois estão em jogo a honra de Deus e a salvação de todos nós
Em quinto lugar, os passaportes e privilégios de viagem deveriam ser absolutamente vetados aos judeus...
 Em sexto, eles deveriam ser proibidos de praticar a agiotagem [cobrança de juros extorsivos sobre empréstimos]... 
Em sétimo lugar, os judeus e judias jovens e fortes deveriam pôr a mão na debulhadeira, no machado, na enxada, na pá, na roca e no fuso para ganhar o seu pão no suor do seu rosto...
Deveríamos banir os vis preguiçosos de nossa sociedade ... Portanto, fora com eles... Resumindo, caros príncipes e nobres que têm judeus em seus domínios, se este meu conselho não vos serve, encontrai solução melhor, para que vós e nós possamos nos ver livres dessa insuportável carga infernal – os judeus."

 O próprio Lutero não queimou Judeus vivos, mas algumas de suas recomendações foram colocadas em práticas pelo regime de Hitler. O regime nazista queimou sinagogas e escolas judaicas, submeteu os judeus a trabalho forçado e confiscou seus bens e os proibiram de sair às ruas. Em um exemplo, na noite de 9 para 10 de novembro de 1938 paramilitares nazistas atacaram sinagogas e estabelecimentos de judeus, passando para a história como “A Noite dos Cristais” por causa dos estilhaços dos vidros das janelas e vitrines. Durante a Segunda Guerra Mundial, cópias do livro foram exibidas pelos alemães em comícios e reuniões em Nuremberg, e o consenso acadêmico predominante é que o livro teve um impacto significativo no Holocausto. Julius Streicher, editor do jornal nazista Der Stürmer, descreve a obra como o tratado mais radicalmente antissemita já publicado.  "Hitler não teria sido possível, sem Martinho Lutero". (maior figura da reforma protestante) declaração publica do Pastor Wilhelm Rehm de Reutlingen em 5 de outubro de 1933.
“Dentre os 17.000 pastores evangélicos da Alemanha, nem 1% se negaram a apoiar o regime nazista”. (Fonte: History of Christianity, de Paul Johnson).


“Embora [Lutero] se rebelasse contra a autoridade religiosa, poderia ser extremamente intolerante com quem dele discordasse em assuntos religiosos. Possivelmente foi devido em parte à sua intolerância o fato de as guerras religiosas terem sido mais ferozes e sangrentas na Alemanha do que, digamos, na Inglaterra. Além disso Lutero era feroz antissemita, tendo talvez, a extraordinária virulência de seus escritos sobre os judeus preparado o caminho para o advento de Hitler na Alemanha do século 20”, explica o historiador Michael H. Hart.

Lutero foi considero por Hitler, em seu Mein Kampf, como uma das três principais figuras da Alemanha — ao lado de Frederico, o Grande, e Richard Wagner. “Os escritos posteriores de Lutero, atacando os judeus, eram tão virulentos que os nazistas os citavam frequentemente”, explicam Dennis Prager e Joseph Telushkin no livro Why the Jews? (Por Que os Judeus?, em tradução livre).
Em contraponto a essa visão, o teólogo Johannes Wallmann escreve que o tratado não teve continuidade de influência na Alemanha e foi de fato amplamente ignorado durante os séculos 18 e 19. Já Hans Hillerbrand corrobora ao argumentar que focar no papel de Lutero no desenvolvimento do antissemitismo alemão é subestimar “a mais grande peculiaridade da história alemã”.

 Por fim, é certo explicar que, desde a década de 1980, alguns órgãos da Igreja Luterana denunciaram formalmente o escrito e buscaram dissociar o tratado de Lutero sobre os judeus de sua doutrina.
No 60º aniversário de Kristallnacht, a Igreja Luterana da Baviera, que ocorreu em novembro de 1998, a entidade emitiu uma nota afirmando que “é imperativo para a Igreja Luterana, que sabe que é endividada ao trabalho e a tradição de Martinho Lutero, de levar a sério também as suas declarações antijudaicas, reconhece a sua função teológica, e reflete nas suas consequências. Temos que nos distanciarmos de cada [expressão de] antissemitismo na teologia Luterana”.

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