terça-feira, 17 de agosto de 2021

500 ANOS DE GENOCÍDIO INDIGENA

 

A história do genocídio de povos indígenas no Brasil ainda não acabou. 

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Tudo começou em 1500, com o deslumbramento calculista do colonizador europeu. Entre ele e as riquezas que aquela nova terra prometia, havia, entretanto, um porém. Indivíduos de pele castanha, cabelos escuros e familiaridade absoluta com o meio que os rodeava. Cinco milhões deles.

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Primitivos. Atrasados. Selvagens. Imorais. Era assim que os portugueses os viam e, com o aval da Igreja Católica (que cogitou que eles não tinham alma), a matança começou. E mesmo quando a Igreja Católica rapidamente voltou atrás e disse “não, peraí, eles têm alma, sim, só precisam ser ensinados, catequizados, subjugados, dominados, etc”, os portugueses continuaram vendo naqueles seres de olhos amendoados homens que não eram bem homens e mulheres que não eram bem mulheres. E a matança continuou.

Continuou de diferentes formas. Alguns povos, inconformados e rebelados contra a dominação, foram exterminados em massa. Outros foram escravizados e catequizados, exterminados de dentro para fora. Muitos milhares de outros padeceram ao dar de cara com uma infinidade de doenças que seus corpos despreparados nunca tinham encontrado antes.

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E existiram ainda os momentos em que as coisas ficaram muito confusas, e tupinambás se aliaram a franceses para derrubar portugueses, que já estavam aliados a tupiniquins, que queriam ajuda para derrubar os tupinambás, e no fim padres tiveram que intervir e negociar tratados de paz que não chegaram a durar nem um ano.

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Paz de Iperoig, o primeiro tratado de paz das Américas.

 

De qualquer forma, os povos indígenas morriam. Morriam a rodo. E quando parecia que os portugueses iam desistir deles para focar na parcela de escravizados africanos que não morria a rodo na travessia do Atlântico, vieram os tais bandeirantes. Os desbravadores sanguinários que forçaram os limites das fronteiras do Brasil com a escravidão e o genocídio implacável de todo e qualquer indígena que atravessasse seu caminho.

indígenasE cuja glorificação ainda hoje deveria dar engulhos até no mais orgulhoso patriota.

 

Mas isso tudo faz muito tempo, tem quem diga. Hoje até comemoramos o dia do índio, uh, uh, uh, uh, uh, uh, penas no cabelo e tudo.

É verdade que muita coisa mudou. A Igreja Católica resolveu que os indígenas tinham alma — os jesuítas defenderam os seus direitos (mas aniquilaram sua cultura, ops!) — os artistas do século XIX os chamaram de “o bom selvagem”, pacíficos, indefesos, incapazes — o que levou o Estado a decidir tutelar a sua existência de cidadão de segunda classe…e assim continuar a ensinar, catequizar, controlar, subjugar, dominar, ops! — reservas indígenas foram criadas… — e tiveram suas fronteiras ignoradas por grileiros, posseiros, fazendeiros, trambiqueiros, assim como todas as legislações já criadas de proteção ao índio desde o longínquo ano de 1549, meio século depois de quando tudo começou.

Muita coisa mudou. Mas muita coisa mudou tão sem rumo e sem vontade e de qualquer jeito que acabou dando a volta completa e chegando no mesmo lugar: nos indígenas morrendo. A rodo. De cinco milhões, restaram setecentos mil.

A marginalização do indígena, o seu status de cidadão de segunda classe, o descaso com a sua existência, os espaços reduzidos a que ele foi confinado; a precariedade a que ele é submetido. Tudo isso contribui consideravelmente para as suas gigantes taxas de mortalidade infantil; de mortes por doenças infecciosas e parasitárias; do seu índice assustador de suicídios…

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…(se os povos indígenas do Brasil formassem um país, ele teria a segunda maior taxa de suicídios no mundo);

 

e dos assassinatos constantes, que prosseguem numa linha contínua desde 1500, configurando um genocídio interminável de mais de quinhentos anos. Durante a ditadura militar, mais de 8 mil foram mortos por estarem no caminho das estradas idealizadas pelo Programa de Integração Nacional, que levaria o “progresso” para os confins da mata amazônica. Os Waimiri-Atroari perderam 75% de sua população em menos de quinze anos. Os Panarás perderam 84%. O número de Parakanãs no Pará caiu pela metade. Sobraram apenas 10% dos Yanomamis do rio Ajarani.

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